segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ENTRE A VITRINE E O ESTOQUE

Memórias de uma vendedora de shopping

Capítulo 11 - Pró-atividade de cu é rola
Não tem nada mais idiota que pensar que pró-atividade é algo bom.

Outro dia, eu inventei de ir à manicure. Pensei: vamos mostrar ao [gerente] que eu dou valor ao meu trabalho, invisto na minha imagem e tal.

Cheguei na loja toda pimpona, achando que ia ouvir uns elogios pela iniciativa. Mas não. O que levei foi um esporro pela cor do esmalte. Descobri que o [dono da loja] tinha umas regras de padrozinação e esmalte escuro era terminantemente proibido. "Amanhã não quero ver você com essa unha escura".

Enquanto me intoxicava com acetona no banheiro de casa à meia-noite e meia, jogando fora as duas horas e a grana que gastei no salão no meu dia de folga, fiquei tentando entender de onde veio a infeliz idéia de ser pró-ativa.

Mas a merda não pára aí. Porque eis que quando eu chego no dia seguinte, obedientemente sem meu esmalte que durou um dia, o [gerente] pede pra ver minhas unhas e diz "ué, você ficou sem nada?". Não era pra tirar o esmalte? "Era, mas não pode ficar sem nada. As vendedoras têm que estar sempre com as unhas feitas, regras da loja".

Tipo, aquela era a primeira vez que eu tinha feito manicure em todo o tempo em que trabalhava lá e agora era obrigação? "Sempre foi, mas você passou batida. A partir de hoje, quer ver suas unhas sempre impecáveis".

Eu mereci essa. Por que foi na minha cabeça que nasceu a idéia imbecil de ser pró-ativa.