sexta-feira, 11 de julho de 2008

CARLINHOS

Ela estava completamente atordoada pela morte daquele garoto.

Nunca se falaram. Se bobear, ele nem sabia da sua existência. Mas, de repente, o acidente aconteceu em pleno horário de aula e o menino bonitinho que se sentava algumas carteiras à sua frente não existia mais. Simples assim.

Quando encontrou seu colega da outra sala no intervalo, seu coração bateu mais forte. "Poderia ter sido ele", pensou. Ela sentiu aquele frio na nuca, desses que só se sente em situações de extremo medo, só de imaginá-lo naquela bicicleta, no lugar do tal colega bonitinho.

Ele, por sua vez não parecia nada abalado com a morte do tal garoto. "Nem sei quem é".

Ela se sentia meio boba perto dessa indiferença, e se segurou ao máximo pra não deixar transparecer aquele leve desespero diante da fragilidade da vida. "Não morre, tá?", foi só o que deixou escapar.

"Que nada a ver...", respondeu ele, num tom repreensor.

Nunca quis tanto que uma pessoa não morresse antes. Nem depois.

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