sexta-feira, 11 de julho de 2008

FELIZ ANO VELHO

Este ano começou com o fim. Desses fins trágicos de filme romântico policial de terror. Meu relacionamento com uma das pessoas que mais marcou minha vida acabou. De súbito e de vez. E me acabou.

Acabou também o emprego na loja. Acabaram-se os jeans, as metas de vendas e as meias-horas diárias na Saraiva.
Não bastasse, acabou minha caminhada rumo ao diploma com o JOB, minha classe da manhã na faculdade.

Comecei o ano sem namorado, sem emprego, sem dinheiro, sem amigos de faculdade.
No entanto, fins costumam acabar em começos. Como posteriormente eu ouviria de um amigo, às vezes é preciso matar algo para que nasça o novo.

A gravidez do novo chamou-se acampamento de carnaval. Três dias fora de São Paulo com amigos do coração por perto. Música, grama, comida boa, palestras interessantes, Máfia, noites praticamente bem dormidas, Bíblia. Três amigas do peito que sentiram sobrenaturalmente uma ferida a mais e se colocaram a postos.

Pois a primeira a nascer foi a InfoMoney. Emprego na área, salário bom que cobria a mensalidade da Cásper. Desafios muitos, algum medo no começo e muita perseverança. E meio-período.

Então nasceu a vida acadêmica à noite. Entrei no JOD, passei a assistir às aulas efetivamente acordada, como era meu plano. Vieram as caronas após as aulas, e a companheira jodeense de ônibus na volta pra casa.

Foi o início dos yakissobas e dos bares. Conheci pessoas novas, tive conversas inovadoras, comecei a dormir na Paulista de sexta-feira, passei madrugadas acordada na rua e em casas de colegas. Surgiu nesse interim um projeto promissor e bem humorado de namoro.

E veio o casamento. Dos outros, não meu. Tine e Mix, Paulo e Cláudia, e uns outros vários. Vieram então os filhos. Novamente, não meus. Foram, se não me falha a memória, 3 planejados, 3 surpresas e 3 que nasceram sem eu ver.

Houve mortes também. Morreram alguns que me fazem falta e outros que não. Alguns amigos ficaram doentes, a maioria por dentro. Morreu também meu rascunho de relacionamento novo. Veio a raiva e a desilusão.

Chegou meu aniversário e completei 20 anos com o coração pisado. Comemorei com amigos que queriam estar lá sem que eu insistisse e descobri que existem pessoas que me amam mesmo quando eu não me esforço nesse sentido.

Chegou o piercing no lábio e o novo corte de cabelo, que continuou preto. Comecei a sair mais e sair com caras. Alguns muito divertidos, outros nem tanto. Muitas baladas, caronas, fast-foods e risadas, e-mails, telefonemas, scraps. Farra.

A Aline foi para a Irlanda, e voltou com um porquinho simpático chamado Emmit, que me faz companhia ultimamente no lugar dela, e trouxe para mim chocolates, mini Cocas de avião, livros, um boné menor que minha cabeça e um par de meias de leprechauns - um pé verde e o outro branco.

Rolou a viagem com os brothers, o medo, a calma estranha. Descobri que estava de pé, e não de joelhos, como pensava. Mais balada, muito Los Hermanos, um pouco de piscina e sol e muito pouco de comida e cerveja. Passou em parte a raiva.

Voltaram as aulas, e o ultraje. Algumas semanas de passarem reto, mais raiva, alguns rancores. Um peito estufado, um confronto, um band-aid. Voltaram as lágrimas, e a solidão.

Surgiram os infindáveis fins-de-semana com a Mi. 5 da manhã era muito cedo para estar de volta em casa. Pelo menos sempre tínhamos companhia e caronas até as respectivas casas. Mais baladas, brigas nas baladas, pés descalços, muita maquiagem e dormidas furtivas e secretas na ex-casa da Mi.

Vieram os shows. Los, Los e Los. Conversei com Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante (nomes irônicos, aliás) num momento lúdico, me descobri mais profunda em considerações do que pensava.

(Re)Começaram os trabalhos na faculdade, a correria, as provas. Me promoveram no emprego, começou o período integral e o malabarismo com as tarefas da faculdade. Me descobri mais capaz do que pensava.

Fui assistir Pearl Jam na pista do Pacaembu sozinha. De carona, camiseta, all-star, capa de chuva, lente e delineador. Descobri a coragem que a solidão traz.

Chegou o Natal. O Rafa se mudou de volta pra casa e eu voltei pro quarto da minha irmã. A Aline, por sua vez, ajudou na mudança e pouco depois foi pros EUA, deixando o Emmit comigo. Fiquei de filha quase única em um quarto quase meu.

Veio a orquestra, fechando meu ano com chave de ouro. Transcrição de notas, leitura sofrida de partitura, muita vontade de fazer sons bonitos. Seis apresentações em três dias, olhos emocionados escondidos atrás dos violinos, sorrisos contidos pra não estragar o sopro.

Ano mágico, de muito só e pouco muito. Perspectivas boas para 2006... Digo, profissionalmente. A vida amorosa vai ter que ficar mais tempo em hold.

(postado originalmente em 27/dez/05)

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