sexta-feira, 11 de julho de 2008

I KNOW WHERE YOU HIDE, ALONE IN YOUR CAR

Ela correu, mas não conseguiu evitar o cabelo molhado. O Ka preto não estava muito longe do cinema, mas a chuva estava forte. Uma vez dentro, ligou o som e olhou pela janela: o maior trânsito. Não deveria demorar muito pra passar, pensou.

Fuçou a mochila no banco de trás e pegou uma blusa de moletom seca. Pegou a lata de Pringle's do porta-luvas, reclinou o banco e aumentou o som. Pensou em como gostava do seu carro. Fora duro juntar dinheiro suficiente a dar entrada e estava sendo duro pagar as prestações. Mas valia a pena.

Era o fim das intermináveis horas no busão (convenhamos que pegar trânsito num carro com música, ar condicionado e comidinhas é bem melhor que engarrafamento no ônibus). Era também ótimo poder enfim retribuir carona aos amigos, quando dava (nem que rachassem a gasolina depois).

Mas o que mais gostava era de simplesmente ficar ali. Era seu petit coin du monde, sua casinha, seu abrigo. Nos dias de stress brabo, ela dirigia até o shopping só pra ficar no estacionamento, organizando os pensamentos, orando, xingando alguém, chorando, até esvaziar a cabeça.

Tinha tudo à mão: no porta-luvas, maquiagem (por que se pintar de manhã cedinho, antes de sair de casa não dá), garrafa de água (sempre abastecida), chiclete (pras emergências) e snacks.

Pendurado no retrovisor (que ela chamava de espelhinho, apesar das reclamações masculinas), ficava pendurado um par de dadinhos; no tapa-sol, o adesivo do OneTruth (pra não perder o foco), uma foto do Bloco e os óculos escuros.

Aos pés do banco de passageiros, um par velho de all-stars (pra não levar multa quando ia de salto a alguma festa); debaixo do próprio banco, um case com todos os seus CDs prediletos (tudo cópia - não queria correr o risco de perder os originais caso o carro fosse roubado). No banco de trás, uma almofada gorda (pras sonequinhas clandestinas no estacionamento do trabalho na hora do almoço) e uma pequena mochila, sempre com uma troca de roupa (básico!) e um casaco (pra não ser pega de surpresa pelo frio).

No porta-malas, nada de pessoal. Nunca estaria ao alcance, se ela realmente precisasse de alguma coisa guardada lá. Só as ferramentas (que ela sabia muito bem usar, apesar da incredulidade da maioria).

Depois de ouvir quase todo o CD e finalmente terminar a latinha de Pringle's, percebeu que o trânsito estava quase bom. Resolveu ligar pra ele, sem disfarçar o sorrisinho bobo.

Adorava seu cantinho...

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