sexta-feira, 11 de julho de 2008

DELICATESSEN

Na sala do presbítero, espelho, caixa de maquiagem, nécessaire, biombo, ferro de passar, lenços, rádio: o ambiente era dela. Pediu à mãe, à cunhada e às primas que lhe deixassem a sós por um segundo, antes de se dirigir à porta da igreja.
Fitou seu reflexo com gosto. O vestido branco, de tecido grosso, caimento discreto e corte delicado, cobria toda a sensualidade preparada da moça. Meia fina presa à lingerie de renda por uma cinta-liga. O corpo jovem da noiva estava enfeitado provocativamente e estrategicamente embrulhado na branca discrição do tafetá, era uma sobremesa em vitrine de delicatessen. A harmonia era a materialização de uma metafóra: a capa da inocência estava pronta para ser retirada e revelar o desejo cultivado e preservado para um único homem. Safra 1985.

To be continued.

(Originalmente postado em 19/set/07)

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