sexta-feira, 11 de julho de 2008

KILLING ME SOFTLY

- Está sentindo? Isso, bem abaixo da quinta costela. Mais pra esquerda... Aí.
- Ah, ta. Dá pra sentir mesmo. Tem algum sinal externo? Deixa eu ver.
- Muito de leve. Ta vendo uns vermelhinhos aqui? Mas quase nada.
- Hm... Você trouxe o raio X?
- Ahã. Ta aqui.
- Hm...
- E aí?
- É, ta alocado mesmo.
- Como assim?
- Se alojou aí no meio. Ta vendo esses branquinhos aqui na chapa?
- Ã.
- Então, são tipo raízes...
- Poutis... Isso é sério!
- É...
- E pra quando a gente marca a cirurgia?
- Oi?
- A cirurgia. Pra arrancar fora.
- Você não pode arrancar.
- Como não??
- Ta muito encostado nos seus órgãos vitais, o risco é grande de prejudicar algum deles.
- Mas isso não pode ficar aí dentro!
- Se a irritação na pele ficar pior, você pode usar um corretivo, ou cobrir com a roupa...
- Pouco me importa a pele! Quer dizer, não seria muito agradável se ficasse assim, à vista, mas a questão é que não consigo viver com isso aí dentro..
- Entendo seu ponto de vista. Mas é uma operação impossível.
- Como assim impossível? Vou a outro médico, então.
- Pode ir, ele dirá a mesma coisa. Pra você tirar isso daí de dentro à força, só morrendo.
- Isso não pode ficar aí.
- Concordo. Vai acabar te debilitando.
- E o que eu faço??
- A única solução é dissolver o máximo possível e inutilizar o restante.
- Poutis..
- É, dá bastante trabalho... Podemos começar com uma quimio mais leve.
- Vou precisar de ajuda.
- Vamos traçar juntos um plano de ação. Vai precisar de disciplina...
- Droga...
- Tem alguém para quem você possa ligar para conversar a respeito? Com quem você possa contar? Vai precisar de apoio... Seu marido, talvez?
- Não, ele ainda não chegou.

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